5 de junho de 2007

Fomos aos Prados da Messe (finalmente...)

No domingo 3 de Junho fomos finalmente conhecer os Prados da Messe, sobre os quais já tínhamos lido e ouvido muitos montanheiros, e onde já tencionávamos ir há algum tempo.

Aproveitamos as informações recebidas do Jorge Louro, que organizou em Março uma caminhada da AAEUM de Leonte aos Prados da Messe, e a que na altura não nos pudemos juntar.

Saímos da Portela de Leonte (altitude de 862m) já tarde, no final da manhã e começamos a subida em direcção ao Borrageiro. Nessa altura ainda havia uma ligeira neblina, o céu estava pejado de nuvens, e a temperatura era relativamente fresca, muito agradável para caminhar.

Vista do Covelo por entre "Maias"

A subida inicial tem algum declive, mas faz-se sem grande dificuldade. Ao fim de algum tempo, por entre os cumes do Covelo e do Cancelo começamos a avistar ao fundo toda a Serra Amarela e no extremo direito as antenas da Louriça/Muro, onde subimos no domingo anterior.


Vista da Serra Amarela (ao fundo)

Nesta fase do percurso, como em várias outras partes do caminho, havia um intenso aroma libertado pela urze. Um cheiro adocicado e forte, quase enjoativo, e no qual pudemos reconhecer o odor do mel do Gerês. Este perfume natural foi tão forte e tão frequente que nos lembraremos sempre do passeio aos Prados da Messe, quando sentirmos o odor do mel do Gerês.


A urze roxa (queiró) que perfumou e adocicou boa parte do percurso


Uma pereira bravia (ao centro) e flores (ainda não identificadas)

A primeira breve paragem foi no Mourô onde existe uma cabana de pastor, e onde tiramos algumas fotos. Foi aqui também que, distraídos e demasiado confiantes, saímos do trilho começando a seguir as mariolas “erradas”.
Vista a partir de Mourô


Mariolas - a sinalização da montanha

Mas apercebemo-nos do engano pouco depois e voltamos para trás. Este engano que nos “custou” mais de 30 minutos e cerca de 1600 metros (ida e volta), permitiu-nos no entanto desfrutar de uma magnífica vista sobre o Vale da Teixeira.
Vale da Teixeira

Retomado o trilho correcto, já debaixo de um sol quente, paramos um pouco depois para comer. Mais recompostos, continuamos a subida até Chã da Fonte, de onde se divisa a antena do Borrageiro.


Vista da subida para a Chã da Fonte

Percorremos a Lomba do Pau (o trecho mais alto desta caminhada a cerca de 1360m) rapidamente, e estávamos com tanta vontade de chegar aos Prados da Messe que - novamente demasiado confiantes e sem analisar a carta topográfica - quando divisamos o belíssimo Prado do Conho, com sua cabana no fundo (como sabíamos que acontecia nos Prados da Messe), ficamos convencidos que já estávamos no nosso destino.



Mariola que marca a entrada no Conho

Vista da entrada para o Conho sobre as Fichinhas

O Prado do Conho (vista Norte-Sul)

Constatei hoje que não fomos os primeiros que fomos enganados pelos nossos desejos. Os caminheiros do Monte Acima também passaram pelo mesmo equívoco.

Mas considero o engano “compreensível” tendo em conta a beleza do lugar (para nós, o Conho é mais bonito do que os Prados da Messe). Voltamos a parar, por um bom bocado, para usufruir deste local quase idílico, da sombra das árvores, da água que corre, do silêncio e da paz que só este contacto íntimo com espaços pouco humanizados podem proporcionar. Aproveitamos também para lanchar (fruta e umas fatias de bolo de alfarroba, feito pela Luísa, que estava delicioso) e para tirar fotografias.


Andarilha

Andarilho

Cabana de pastor no Conho

Ainda convencidos que estávamos a sair dos Prados da Messe pusemo-nos de novo em marcha. Como pensávamos estar a seguir as indicações do percurso realizado pela AAEUM, esperávamos encontrar pouco depois o caminho para a Costa da Sabrosa do lado esquerdo e os Prados Caveiros em frente.

Depois de termos atravessado um pequeno rio (que posteriormente identificamos como a Ribeira do Porto), entramos finalmente no que depois percebemos serem os Prados da Messe. Quando vimos a dimensão do Prado, a cabana dos pastores e as ruínas da casa cuja construção tem sido erradamente atribuída ao rei D. Carlos, começamos a questionar-nos sobre a identificação do lugar (que inicialmente pensamos serem os Prados Caveiros). A consulta posterior da carta topográfica fez luz sobre a nossa localização.


Prados da Messe com as ruínas da alegada construção a mando do rei D. Carlos

Os Prados da Messe são um espaço bonito, mais amplo e com uma maior grandeza do que o Conho, mas ambos sentimos que ficaram um pouco aquém do que esperávamos. Acresce que foi no Conho, e não nos Prados da Messe, que sentimos aquele “não sei o quê” dos sítios especiais...


Prados da Messe (vista Norte-Sul)

Para além de outros motivos (como termos chegado tarde – depois das 17H – e devermos começar a pensar em descer, com tempo para qualquer imprevisto, pois não conhecíamos o caminho), uma das coisas que mais contribuiu para que os Prados da Messe não nos impressionassem tão positivamente como esperávamos foi a autêntica lixeira que encontramos junto à cabana dos pastores.


Prados da Messe, com a cabana (à direita) junto da qual encontramos uma "lixeira"...

É verdadeiramente inacreditável encontrar restos de latas, garrafas, embalagens plásticas de salsichas, e vários outros dejectos da nossa sociedade “plastificada” e “fastfoodizada” (e isto soa mesmo ao que deve soar...), num local daqueles. Um local que pensávamos ser apenas frequentado por quem gosta e respeita as montanhas e os espaços naturais. O que vimos nos Prados da Messe é uma vergonha!

Depois de mais uma breve paragem para descanso e para mais algumas fotografias, partimos em direcção à Costa da Sabrosa. Entre o Lombo do Burro e o Cabeço do Cantarelo voltamos a avistar o que nos pareceu (e depois de visto o vídeo continua a parecer) ser um casal de águias de asa-redonda.

Já as tínhamos vislumbrado brevemente, e sobretudo ouvido um piar repetido e forte, na descida para o Conho. Agora estavam mesmo por cima de nós, piando, voando em círculos curtos e parecendo brincar entre si. Tentei ser o Lucky Luke da foto e vídeo digital, mas apenas consegui registar uma fotografia e uns 10 segundos de vídeo com imagem nítida (os outros ficaram desfocados pela dificuldade de fazer zoom e acompanhar o voo das águias com uma mísera máquina fotográfica).


As águias que nos fizeram companhia no Conho e no Cantarelo

Com a pressa de registar as águias, as cartas topográficas ficaram abandonadas no chão, mas felizmente lembramo-nos disso um pouco mais à frente, e só perdemos 5 minutos a voltar atrás.

De seguida começamos a descer para a Mata de Albergaria através do caminho existente na Costa da Sabrosa, não sem antes termos feito uma pequena “variação” que nos obrigou a 100 metros de “corta-mato” para retomar o trilho.


Início da descida da Costa da Sabrosa

A descida da Costa da Sabrosa não é muito longa (menos de 3 km) mas é difícil e dura por causa do desnível que se ultrapassa nesta curta distância, e da consequente forte inclinação. A meio da descida, num espaço de pouco mais de 100 metros, passamos por quatro cobras. Uma delas ficou estática, junto a uma pedra, provavelmente fingindo de morta. As outras três desapareceram rapidamente na vegetação à nossa passagem. Uma delas parecia ter a cabeça grande e triangular como as víboras de Seoane.

Quando desembocamos na Mata de Albergaria, ainda tivemos de percorrer os mais de três quilómetros até à Portela de Leonte, onde chegamos cerca das 19H30m. Caminhar no alcatrão, cruzando com alguns automóveis que por lá circulavam, não é certamente a melhor forma de acabar um dia no Gerês. Mas é um pequeno custo que valeu a pena, face a tudo que vimos, sentimos e conhecemos neste dia.



Vista da Mata de Albergaria do final da descida da Costa da Sabrosa

Mais um percurso a repetir (talvez noutra altura do ano), já sem os erros e os equívocos desta primeira vez, começando mais cedo e visitando também os Prados Caveiros.

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